quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O apartamento 4 do bloco 4A

O apartamento nº4 no bloco 4A não foi muito querido a princípio.
Foi difícil para a minha irmã mais velha, adolescente na época, deixar para trás o bairro em que cresceu e fez tantos amigos queridos, e mudar para o apartamento que a nossa avó construiu, e que de verdade, eu só fui entender a importância e como essa construção aconteceu depois de bem mais velha.

Eu e a minha irmã mais nova morávamos com a minha tia, avó e irmã, então mudamos também, mas sofremos pouco porque não tínhamos esse apego todo com o antigo bairro.

O lugar era feinho, não tinha nada em volta, nem asfalto direito, um ano se passou, eu e a Camila voltamos a morar com nossos pais, e me lembro da Flá chorando na hora da despedida e eu nem entendi muito bem, já que estaríamos tão pertinho dali.

Sei que ela passou por inúmeras coisas naquele apartamento, foi lá que ela arrumou um namorado que a minha avó e tia detestavam e namorou escondida um tempão, e o irmão desse rapaz foi com quem eu dei um dos meus primeiros beijos, foi também o primeiro menino que disse que eu era bonita, mesmo com meus quilinhos a mais.

Passamos tantos natais lá e não eram supeeeer animados, mas hoje me fazem tanta falta. Lembro de um, que a minha avó resolveu não passar em casa, e como ficamos chateados.

Foi querendo ir para o apartamento nº4 que eu peguei meu primeiro ônibus, e onde eu passava as minhas férias inteiras de escola, descobrindo como arrumar meu cabelo, sendo zuada pelas meninas do prédio que era malignas como toda adolescente, e sempre que eu saia de lá, voltava transformada para casa, era visível isso, eu sentia a mudança e gostava.

Foi lá que a minha irmã passou na USP depois de passar tantas noites em claro estudando, e lá também que a minha tia adoeceu e veio a falecer.

Foi lá que eu tive aulas com a Flá desde os meus 13 anos.
E também foi onde a minha avó perdeu o brilho dos olhos.

Quando isso aconteceu, eu voltei a morar no apartamentinho, mas desta vez só com a minha irmã, e foi quando a minha vida mudou.

O namorado que realmente me acrescentou algo, e na época era legal, conheceu essa casa antes da dos meus pais, e foi nela que eu descobri quem era Woody Allen (já falei mil vezes isso aqui), e um monte de gente que hoje servem de inspiração para a minha vida.

Conheci bandas, assisti Alta Fidelidade mil vezes, cantei Pavement bem alto, tomei porre com a minha irmã e levei muita bronca. Ah, e tinha sarau nas manhãs de sábado com direito a música clássica e tudo.

Foi nele que eu entrei na faculdade e chegava bêbada, triste, cansada etc, e com o tempo o namoradinho se foi... E as coisas continuaram caminhando.

Aí, chegou a hora da minha querida se casar, arrumou um amor para toda a vida e foi se embora ser feliz. Em menos de 3 meses eu estava de volta, desta vez com meus pais, no mesmo quarto que ocupei quando tinha 9 anos e com mais que o dobro da idade.

Trouxe amigos, o Thiago, fiz meu TCC, noite após noite, acordada em frente ao computador da sala, fumando os últimos cigarros da minha vida.

Aceitei namorar novamente com o Thiago dentro destas paredes, e foi uma das melhores coisa que fiz  <3 o:p="">

E foi no portão do condomínio, que o meu pai deixou eu, minha mãe e minha irmã mais nova sozinhas no apartamento nº4.

E foi aqui que nós superamos, e que a saudade martela dia após dia.

E hoje, chegou a minha vez de deixar este lugar que me viu crescer, me salvou e deve carregar a história da minha família, para viver o resto da minha vida em um novo apartamento, que eu espero, seja ocupado com tanta felicidade quanto este aqui.


Embalar as coisas para deixar esse lugar é sofrido, me traz uma saudade de todo mundo que já passou por aqui, de outros tempos, não por medo do novo, mas porque foi tão bom.